Por Dentro de um LLM: Como uma IA Generativa Realmente Funciona

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Introdução: A Máquina que Prediz Palavras

LLM

Imagine uma inteligência artificial que não possui consciência, emoções ou intenções, mas que consegue escrever textos coerentes, responder perguntas complexas e até simular diálogos filosóficos. Essa IA não “pensa” como nós, mas opera com uma precisão estatística impressionante. O segredo está nos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs) — algoritmos treinados para prever a próxima palavra em uma sequência textual com base em padrões aprendidos em bilhões de exemplos.

Este artigo revela, com profundidade técnica e clareza didática, como funciona um LLM moderno, como o ChatGPT, Claude, Gemini ou DeepSeek, e por que entender sua estrutura é essencial para usar IA de forma crítica e eficaz.

1. O Que é um LLM?

Um LLM (Large Language Model) é um tipo de rede neural profunda treinada para compreender e gerar linguagem natural. Seu funcionamento se baseia em uma tarefa simples, mas poderosa: prever a próxima palavra (ou token) em uma sequência de texto.

Exemplo básico :

Entrada: “A inteligência artificial é…”

O modelo pode prever:

“revolucionária”

“complexa”

“uma tecnologia promissora”

Essa previsão é feita com base em padrões estatísticos extraídos de um corpus massivo de dados — que inclui livros, artigos científicos, sites, fóruns e outros textos públicos.

Por que isso é poderoso?

Porque ao repetir esse processo de previsão milhares de vezes por segundo, o modelo consegue gerar textos inteiros, responder perguntas, traduzir idiomas e até escrever código. Tudo isso sem entender o conteúdo — apenas reconhecendo padrões.

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2. A Arquitetura Transformer: O Coração do LLM

A revolução dos LLMs começou com o artigo “Attention is All You Need” (Vaswani et al., 2017), que introduziu a arquitetura Transformer. Essa estrutura substituiu modelos sequenciais como LSTMs e RNNs, permitindo paralelismo e escalabilidade.

Componentes principais:

a) Tokenização

Antes de qualquer processamento, o texto é dividido em tokens — que podem ser palavras, subpalavras ou até caracteres. Por exemplo:

Frase: “inteligência artificial”

Tokens: [“intelig”, “ência”, “artificial”]

Esses tokens são convertidos em números (índices) que representam posições em um vocabulário.

b) Embeddings

Cada token é transformado em um vetor numérico de alta dimensão, chamado embedding, que representa seu significado contextual. Esses vetores são ajustados durante o treinamento para capturar relações semânticas.

c) Atenção (Self-Attention)

O mecanismo de atenção permite que o modelo “observe” todas as palavras da frase ao mesmo tempo e determine quais são mais relevantes para prever a próxima. Por exemplo:

Frase: “O gato que estava no telhado caiu.”

Para prever “caiu”, o modelo dá mais atenção a “gato” e “telhado” do que a “que”.

d) Camadas Feedforward

Após a atenção, os dados passam por redes neurais densas que refinam a representação e ajudam na tomada de decisão.

e) Normalização e Positional Encoding

Como Transformers não têm noção de ordem, o modelo adiciona codificações de posição para saber onde cada palavra está na sequência.

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3. Treinamento: Aprendizado em Escala Massiva

Treinar um LLM é um processo computacionalmente intenso que envolve:

a) Corpus de Dados

Modelos como GPT-4 são treinados com terabytes de texto, incluindo livros, artigos, código-fonte, páginas da web e fóruns. A diversidade dos dados é essencial para a capacidade generalista do modelo.

b) Objetivo de Treinamento

O modelo aprende a prever o próximo token com base nos anteriores. Isso é feito por meio de uma função de perda (loss function), que mede o erro entre a previsão e o token real.

c) Backpropagation

O erro é propagado de volta pela rede, ajustando os pesos dos neurônios para melhorar a precisão futura. Esse processo é repetido bilhões de vezes.

d) Parâmetros

Modelos como GPT-4 têm centenas de bilhões de parâmetros — valores ajustáveis que definem o comportamento da rede. Quanto mais parâmetros, maior a capacidade de representação, mas também maior o custo computacional.

4. Inferência: Como a IA Gera Respostas

Durante o uso (inferência), o modelo realiza os seguintes passos:

. Recebe o prompt do usuário.

. Tokeniza o texto.

. Processa os tokens pelas camadas Transformer.

. Gera uma distribuição de probabilidade para o próximo token.

. Seleciona o token com base em estratégias como :

Greedy decoding: escolhe o mais provável.

Sampling: escolhe aleatoriamente com base nas probabilidades.

Top-k / Top-p (nucleus sampling): limita a escolha aos tokens mais prováveis.

Esse processo se repete até que a resposta esteja completa.

Exemplo prático:

Prompt: “Explique o que é um buraco negro.”

Resposta gerada:

“Um buraco negro é uma região do espaço-tempo onde a gravidade é tão intensa que nada, nem mesmo a luz, pode escapar.”

Essa resposta não vem de uma “memória” ou “entendimento”, mas da recombinação de padrões aprendidos durante o treinamento.

5. Limitações Técnicas

Apesar de sua sofisticação, os LLMs têm limitações importantes:

a) Alucinações

O modelo pode gerar informações incorretas com confiança, pois não tem acesso à verdade factual — apenas padrões linguísticos.

b) Viés

Se os dados de treinamento contêm preconceitos, o modelo pode reproduzi-los. Isso exige técnicas de mitigação e curadoria de dados.

c) Memória limitada

LLMs têm um limite de tokens que conseguem processar por vez (context window). Modelos como GPT-4 Turbo podem lidar com até 128k tokens, mas ainda há restrições.

d) Custo computacional

Treinar e operar LLMs exige milhares de GPUs, consumo energético elevado e infraestrutura especializada — o que limita seu acesso e sustentabilidade.

Conclusão: Entender para Usar Melhor

LLMs são ferramentas estatísticas sofisticadas, capazes de gerar linguagem natural com uma fluidez impressionante, mas que operam sem consciência, intenção ou compreensão real. Ao reconhecer que esses modelos funcionam por meio da previsão probabilística de tokens com base em padrões extraídos de grandes volumes de texto, conseguimos enxergar além da superfície das respostas que eles produzem. Essa compreensão técnica nos permite interagir com mais precisão, criar prompts mais eficazes, evitar interpretações equivocadas sobre “inteligência” artificial e refletir criticamente sobre os limites e impactos desses sistemas. Em vez de temê-los ou idealizá-los, podemos aprender a utilizá-los como extensões cognitivas — ferramentas que ampliam nossa capacidade de pensar, criar e resolver problemas. Dominar os fundamentos de um LLM é, portanto, um passo essencial para quem deseja navegar com autonomia e responsabilidade no novo ecossistema digital moldado pela inteligência artificial.

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